
- Nº 1797 (2008/08/5)
Contra a imposição do AE
Greve nos <i>CTT </i>
Trabalhadores
Contra a discriminação salarial e a tentativa da administração de impor um Acordo de Empresa através de «coacção e chantagem», os trabalhadores dos CTT cumpriram dois dias de greve, a 30 de Abril e 2 de Maio.
E a luta vai continuar, garantiu a Comissão Executiva do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações que propôs, a 9 de Abril, à Assembleia-Geral, marcada para o próximo sábado, que aprove greves para 9 de Junho e os dias 18 - com manifestação em Lisboa - e 19 de Setembro, 2, 3, 4 e 5 de Dezembro.
No primeiro dia de greve, a 30 de Abril, aderiram mais de 60 por cento dos trabalhadores da distribuição, atendimento e serviços centrais. No segundo dia, a luta coube aos sectores de tratamento e transporte de correspondência e registou uma adesão de 80 por cento, nos turnos da noite e da madrugada, segundo o SNTCT/CGTP-IN.
O sindicato revelou ter sido confrontado com impedimentos administrativos, quando representantes sindicais, no piquete de greve, pretenderam entrar nas instalações da empresa, nomeadamente em Cabo Ruivo, Lisboa (ver caixa).
Apesar das pressões, os três sectores para os quais estava convocado o primeiro dia de luta «foram afectados seriamente», à semelhança da luta de 2 de Maio, informou o sindicato.
A administração justifica a tentativa de imposição do novo AE com o facto de nove dos 14 sindicatos existentes nos CTT terem aceite o acordo. No entanto, num comunicado de 9 de Abril, o SNTCT salientava que os sindicatos concordantes representam apenas um quarto do total de trabalhadores dos Correios, sendo que algumas daquelas estruturas têm apenas dez associados na empresa, e lembrava que a matéria em causa aplica-se, exclusivamente, aos associados dos sindicatos que firmaram este «mau acordo».
Um mau acordo
O SNTCT tinha avisado os trabalhadores para as pressões da administração que não se coibiria de recorrer a «métodos ilegítimos e ilegais, configurando um vergonhoso assédio moral, para levar outros trabalhadores, sindicalizados ou não, a aderirem individualmente ao “novo” AE».
Com este «acordo» deixaria de haver progressões na carreira por antiguidade e elas passariam a ocorrer «por mérito», apenas para os que obtivessem classificação superior ao nível do desempenho, durante quatro anos seguidos ou, no caso de se registar alternância nos resultados das avaliações de nível superior, em cinco ou seis anos.
Quem não obtivesse estes parâmetros «poderia nunca passar do nível de entrada».
No AE em vigor desde 2006, as promoções são garantidas após dois ou três anos de serviço, sendo que, para chegar próximo do topo, são necessários seis anos. As carreiras efectivamente de topo é que dependem de decisão administrativa, motivo pelo qual esses cargos têm sido inacessíveis aos trabalhadores, acusou o SNTCT, recordando como é também quase impossível obter-se avaliações de desempenho superiores durante quatro anos seguidos. Assim, os trabalhadores ficam «completamente nas mãos das chefias, dependentes das políticas salariais da administração e dos critérios de avaliação estabelecidos unilateralmente por esta».
A administração também discriminou os trabalhadores ao não ter atribuído, a todos, a actualização salarial de 2,8 por cento, acusou o sindicato.
Agressões físicas e verbais
No Centro de Tratamento de Correio do Sul, em Cabo Ruivo, Lisboa, durante a greve de dia 2, dirigentes do SNTCT foram «agredidos verbal e fisicamente depois da saída das instalações de inspectores da Autoridade para as Condições de Trabalho», por «mais de 20 gorilas» contratados, da empresa privada de segurança Palanca. Os seguranças, alguns deles à paisana, tentaram impedir a entrada nas instalações de dirigentes sindicais no piquete de greve. O sindicato solicitou a intervenção da PSP e da ACT, que se deslocaram ao local. A Polícia tomou nota da ocorrência e foi levantado o respectivo auto, tendo o chefe da PSP mandado o responsável dos CTT afastar aquele «aparato de segurança despropositado», revelou a direcção do SNTCT.
Em declarações ao Avante!, o secretário-geral adjunto daquele sindicato, Eduardo Rita, recordou como um representante dos trabalhadores foi arrastado pelo chão até à porta das instalações. Finalmente, foi autorizada a entrada à delegação sindical. Tanto a tentativa de impedimento como as agressões não têm precedentes nos CTT.